quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O FENÔMENO PAULO COELHO: O TRANSCENDENTAL E O AVENTURESCO

A Idade Média surge diante de nossos olhos sempre como cenário de desgraças, pestes, guerras, violências, aliada a um fanatismo religioso intenso, fazendo com que ainda hoje apareça como uma ameaça constante de um futuro iminente. Roberto Vacca em seu livro A próxima Idade Média evidencia que:
Há muitos indícios de que já começou uma época de fenômenos degenerativos, tanto que não parece absurdo falar hoje de uma próxima Idade Média, levando-se em conta que a expressão compreende três hipóteses: que uma era de desordem, destruição e deteriorização esteja para começar; que este início seja iminente; e que esta era será seguida por outra de Renascimento(V, p. 4).
Eco salienta, também, que a Idade Média:
Sob sua aparência imobilista e dogmática foi,para- doxalmente, um momento de revolução cultural. O processo todo foi naturalmente caracterizado por pestes e massacres, intolerância e morte (E, p.99).
E, em seguida, Vacca fala que “os profetas de hoje não dizem que devemos temer anjos, dragões e abismos, mas que devemos temer o holocausto, a superpopulação, o aniquilamento e o desastre ecológico”(V, p. 2).
É na luta por uma melhoria de vida que algumas pessoas tentam de certa forma encontrar alguma força no transcendental. Quer seja pela busca da elevação de seu espírito ou mesmo para resolver os seus problemas materiais.
Vacca diz-nos que na próxima Idade Média “as livres associações não terão vida fácil. O rápido retorno a uma penúria generalizada será acompanhada de violência e crueldade” (V, p. 41).
Talvez seja por toda essa crise por que passamos, desolados em meio a um mundo decadente, sem nenhum paradigma de valores morais, éticos, sociais, etc., que faz com que uma boa parte de pessoas procurem no misticismo a realização de seus anseios ou que “sejam profetas de si mesmas” por absoluta necessidade de sobreviverem a esse caos em que se encontra o mundo de hoje.
O profético Vacca está certo, pois assistimos à onda de profanação que acontece no mundo atual, propiciando as cenas mais degradantes de violência e de violação de todas as normas de convivência entre as pessoas com outras e com elas mesmas.
Segundo Caillois:
As pessoas que se entregam incondicionalmente a algum princípio tendem a reconstituir uma espécie de meio sagrado, que pode fazer eclodir emoções violentas de natureza específica, capazes de tomar um aspecto religioso caracterizado, êxtase, fanatismo ou misticismo,e que, no plano social, dão origem de modo mais ou menos nítido a dogmas e a ritos, a uma mitologia e a um culto (C, p.129).
E Caillois está certo, pois o clima espiritual de nosso tempo é marcado pela carência do divino e essa carência é denunciada em nossa época pela crescente procura do sobrenatural. Nunca saiu tanto livro sobre ocultismo e esoterismo da indústria cultural, como tem saído agora.
Nesse contexto encaixa-se O alquimista, escrito em 1988, sendo considerado o maior sucesso de Paulo Coelho. Segundo o artigo de Apoenam Rodrigues, na revista Isto É, em 03/08/94, O alquimista está na 124.a edição, com 1,65 milhão de exemplares vendidos. Apoenan relata que
A carreira vitoriosa de O alquimista não se restringe às livrarias. A Warner Brothers, na figura do produtor Robert Schwartz, comprou os direitos autorais para um filme com estréia prevista no exterior em 1996.(...)A obra foi também adaptada para história em quadrinhos pela editora Record(IE, p. 78).
De espírito aventuresco, o protagonista Santiago sonha com um tesouro egípcio e parte em busca dele. Na linguagem metafórica do autor a atitude traduz a tentativa da conquista da “própria lenda”, a “luta pelo bom combate”.
O alquimista é sem dúvida nenhuma um best-seller, principalmente pela mensagem, que é diluída em frases que são repetidas inadvertidamente pelos seus leitores.
Podemos classificar esse romance como de aventura, pois segundo Muniz Sodré:
Hoje, como no passado, o leitor projeta-se nas aventuras heróicas, dando vazão ao seu desejo de potência, de aproximar-se dos deuses, e de poder, como o herói, escapar às leis do cotidiano repetitivo e monótono(S, p. 24).
É Roger Caillois quem sustenta:
Na narrativa de aventuras, a narrativa segue a ordem dos acontecimentos. Vai do antes para o depois do prólogo ao desfecho. O desenrolar da intriga reproduz a sucessão dos fatos: ela adota o curso do tempo (S, p. 40).
No plano do aventuresco, como vamos demonstrar a seguir, podemos dividir a história de Santiago, contada em O alquimista, em várias etapas, tais como: venturas e desventuras em Tânger; peregrinação pelo deserto; a descoberta do amor; encontro com o alquimista; a caminho das Pirâmides e, finalmente, a volta para casa.
O alquimista narra a história de um pastor espanhol, que sonha em encontrar um tesouro nas Pirâmides do Egito:
Certa noite, um jovem pastor tem um sonho repetido: fala de um tesouro oculto, guardado perto das Pirâmides do Egito. O rapaz resolve seguir seu sonho e, defronta-se com os grandes mistérios que acompanham o Homem desde os começos dos tempos: os sinais de Deus, a Lenda Pessoal que cada um de nós precisa viver, a misteriosa Alma do Mundo, onde qualquer pessoa pode penetrar se ouvir o próprio coração (...)( A, p.1).
A fim de ajudá-lo em suas buscas, Melquisedec, rei de Salém, vende-lhe duas pedras mágicas, chamadas Urim e Turim:
- Tome - disse o velho, tirando uma pedra branca e uma pedra negra que estavam presas no centro do peitoral de ouro. - Chamavam-se Urim e Turim. A preta quer dizer “sim”, a branca quer dizer “não”. Quando você não conseguir enxergar os sinais, elas servem. Faça sempre uma pergunta objetiva (A, p. 57).
A partir daí, Santiago começa a sua aventura. Vai para Tânger, na África. Lá é assaltado e sofre a sua primeira desilusão. Sem dinheiro e com fome, resolve abrir seu alforje para ver o que tinha lá dentro, só encontrando “o livro grosso, o casaco, e as duas pedras que o velho lhe dera” (A, p. 69).
Como as pedras serviam para adivinhação, resolveu perguntar se a benção do velho ainda continuava com ele, tendo imediatamente a confirmação. Desse modo, fica mais confiante, não se desespera, pois
O mundo novo aparecia na sua frente sob a forma de um mercado vazio, mas ele já vira aquele mercado cheio de vida, e nunca mais ia se esquecer. (...) Sentiu de repente que ele podia olhar o mundo como uma pobre vítima de um ladrão, ou como um aventureiro em busca de tesouro (A, p.71).
Desse modo, passa a se virar em Tânger, até que conhece o Mercador de Cristais e começa a trabalhar para ele, embora não fosse “exatamente o tipo de emprego que lhe fazia bem” (A, p.83).
Trabalhou por onze meses e nove dias para o Mercador de Cristais. Tinha como objetivo juntar dinheiro “o suficiente para comprar cento e vinte ovelhas, uma passagem de volta, e uma licença de comércio entre o seu país e o país onde estava” (A, p. 95). Conseguiu o dinheiro finalmente. Quando vai arrumar os seus pertences para retornar à Espanha, as duas pedras, dadas pelo velho rei, rolam pelo chão do quarto. Santiago, então,
(...)pegou o Urim e o Turim no chão, e teve novamente aquela estranha sensação de que o rei estava perto. Trabalhara duro durante o ano, e os sinais indicavam que agora era o momento de partir (A, p.98).
Foi-se, sem se despedir do Mercador de Cristais, “mas estava segurando o Urim e o Turim nas mãos, e estas pedras lhe traziam a força e a vontade do velho rei”(A, p.99).
Chamamos a atenção, neste ponto, para a forte presença do transcendental na aventura de Santiago, principalmente nos seus momentos de dúvida, fazendo-o sempre recorrer às pedras mágicas.
Estava muito mais próximo de Andaluzia, sua cidade, do que das Pirâmides. Num momento de indecisão, tão comum a todas as criaturas quando partem em busca de seus tesouros, Santiago vacila, questionando-se:
Sei porque quero voltar para minhas ovelhas. Eu já conheço as ovelhas; não dão muito trabalho, e podem ser amadas. Não sei se o deserto pode ser amado, mas é o deserto que esconde o meu tesouro. Se eu não conseguir encontrá-lo, poderei sempre voltar para casa. Mas de repente a vida me deu dinheiro suficiente, e eu não tenho todo o tempo que preciso; por que não? (A, p.100).
Resolve, afinal, continuar a sua aventura. Junta-se a uma caravana e parte para o deserto em companhia de um inglês. Faz, também, “amizade com o cameleiro que viajava sempre ao seu lado” (S, p.114).
Ao chegar no oásis, conhece Fátima:
Quando ele olhou seus olhos negros, seus lábios indecisos entre um sorriso e um silêncio, ele entendeu a parte mais importante e mais sábia da Linguagem que o mundo falava, e que todas as pessoas eram capazes de entender em seus corações. E isto era chamado de Amor,(...)(A, p. 153).
Apaixonam-se. Passam a se encontrar sempre no mesmo horário, perto do poço. Fátima, ao saber do sonho de Santiago e de toda a sua peregrinação, sugere, quaisquer que sejam as circunstâncias, que ele siga em direção à sua lenda.
Depois de algum tempo, Santiago tem a visão “de um exécito de espadas desembainhadas, entrando no oásis” (A, p. 162). Procura, então, os chefes das tribos e o mais importante deles disse-lhe:
Para cada dez inimigos mortos, você receberá uma moeda de ouro. (...) Entretanto, as armas não podem sair do seu lugar sem experimentarem a batalha (...) Se nenhuma delas tiver sido utilizada amanhã, pelo menos uma será usada em você (A, p.170).
Mas, Santiago sabia que
Se morresse amanhã, seria porque Deus não estava com vontade de mudar o futuro. Mas teria morrido depois de haver cruzado o estreito, trabalhado em uma loja de cristais, conhecido o silêncio do deserto e os olhos de Fátima.(...) Se morresse amanhã, seus olhos teriam visto muito mais coisas do que os olhos dos outros pastores, e o rapaz tinha orgulho disto (A, p.173).
Este seu pensamento, era-lhe confortador, pois ainda que morresse, havia vivido parte de sua aventura.
Nesta mesma noite, Santiago é abordado por um “estranho cavalheiro”, travando assim conhecimento com o Alquimista de Al-Fayoum.
Na manhã seguinte, o oásis, conforme a sua premonição, foi atacado por “dois mil homens armados” do deserto e mais de quatrocentos deles morreram. Santiago, então, recebe do chefe tribal cinqüenta moedas de ouro.
Em companhia do Alquimista, resolve continuar a sua aventura. Durante a viagem, os dois são atacados por três ladrões árabes que acabam deixando-os “partir sem maiores contratempos, com todos os seus pertences” (A, p.205). Alguns dias depois, são novamente atacados por outros salteadores e ameaçados de morte, caso Santiago não se transformasse em vento. Somente no terceiro dia, do alto de um morro, ele começa a conversar com o deserto (“O que é o amor?” pergunta o deserto. “Amor é o sentimento que move o mundo”, responde o pastor (A, p.218). Por último, surge “a Mão que tudo havia escrito” (A, p.225), uma imensa mão que o transforma em vento. Os ladrões ficaram tão aterrorizados e amedrontados com a “bruxaria”, que os deixaram partir.
Quando eles estavam próximos às Pirâmides, o Alquimista despede-se de Santiago. Só que, antes de se separarem, o Alquimista leva o pastor a um mosteiro e faz com que ele presencie a transformação do chumbo em ouro. Depois disso, despedem-se e Santiago segue rumo ao seu destino.
Assim que chega às Pirâmides, aparecem salteadores e roubam-lhe todo o seu dinheiro. Ao ser interrogado por um dos ladrões por que ali estava, o pastor contou-lhe sobre o sonho
que tivera e o chefe dos salteadores resolveu deixá-lo ir, dizendo-lhe:
Aí, neste mesmo lugar onde você está, eu também tive um sonho repetido há quase dois anos atrás. Sonhei que deveria ir até os campos da Espanha, buscar uma igreja em ruínas, onde os pastores costumavam dormir com suas ovelhas e que tinha um sicômoro, haveria de encontrar o tesouro escondido(A, p.242).
Livre, Santiago retorna à Espanha e volta à igreja abandonada. De posse do tesouro, parte em busca de Fátima.
Como pudemos observar, a aventura de Santiago traz-nos uma mensagem de acontecimentos que costumam ocorrer na vida de muitas pessoas: saem em busca do tesouro, na aventura da vida, para, velhas e cansadas, volverem ao ponto de partida, onde descobrem os tesouros de suas vidas.
Da leitura de O alquimista, fica-nos a idéia da força do transcendental e do aventuresco na constituição de um best-seller, conforme a opinião de Muniz Sodré, uma vez que este tipo de obra tem o seu público garantido.
Além desses dois elementos primordiais, para se obter um best-seller, Sodré sugere ainda mais alguns, que podem melhor temperar a receita: o mítico, a atualidade informativo-jornalística, o pedagogismo e o descompromisso com a retórica culta ou consagrada.
No caso de O alquimista, tais ingredientes também estão presentes, como passamos a demonstrar:
Mítico - “A narrativa possui vários arquétipos míticos que transformam muitos dos personagens em verdadeiros tipos modelares” (S, p.8).
Como já dissemos, Santiago é um pastor que, tendo duas vezes o mesmo sonho, sai em busca de sua lenda pessoal. Passa por muitos obstáculos e desafios para finalmente atingir seu objetivo. Mostra-se um vencedor, principalmente por ter tido a determinação de ir até o fim.
Santiago desperta no leitor a chama da esperança, principalmente nessa época atual de desesperança e desenganos, em que as pessoas buscam alguma força transcendental para que possam lutar por sua própria sobrevivência. Santiago simboliza o herói. Sempre exteriorizando o seu pensamento, suas análises, deduções e ilações, fazendo com que o leitor passe a assimilá-los e a segui-los como se fosse uma fórmula mágica para a resolução de seus problemas.
Um exemplo disto é o pensamento: “E quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize seu desejo” que aparece exatamente igual nas páginas 48, 70, 98 e 180.
A cigana, Melquisedec (Rei de Salém) e o alquimista representam a superstição, o mítico e a busca de uma força transcendental.
Fátima simboliza a cara metade de Santiago, o amor em toda sua plenitude e completude entre homem-mulher.
O personagem ladrão é o típico arquétipo do mal, assim como os salteadores. São os oportunistas que, para conseguirem o que querem, não medem as conseqüências e não se importam com o que fazem.
O Mercador de Cristais representa simbolicamente as pessoas que se acomodam na vida, não a questionam, aceitam-na do jeito que ela é.
O Mercador de Cristais viu o dia nascer, e sentiu a mesma angústia que experimentava todas as manhãs. Estava há quase trinta anos naquele mesmo lugar, uma loja no alto de uma ladeira, onde raramente passava um comprador. Agora era tarde para mudar qualquer coisa: tudo que havia aprendido na vida era vender e comprar cristais (R, p.75).
Atualidade informativo-jornalística -
Transparece em todos os relatos do livro a necessidade de informar, de pôr o leitor ao corrente de grandes fatos, teorias e doutrinas -seja do próprio autor, seja da própria época - de uma maneira fácil e acessível, a exemplo da linguagem jornalística (S, p.8).
Em todo o livro, o autor informa ao leitor algumas teorias e doutrinas sobre a alquimia, numa linguagem fácil, a exemplo da linguagem jornalística. Poderíamos exemplificar com o prefácio do romance em que Paulo Coelho explica sobre o fato de O alquimista ser um livro simbólico e faz um relato sobre a sua própria procura em relação a este tema. Informa ao leitor sobre o que seja alquimia e quais são os tipos de alquimistas que existem.
Desse modo, o leitor vai automatizando e interiorizando as fórmulas para conseguir ir em busca de sua meta. Fórmulas simples, repetitivas, que dependem somente da vontade e determinação do próprio leitor:
Só sentimos medo de perder aquilo que temos, sejam nossas vidas ou nossas plantações. Mas este medo passa quando entendemos que nossa história e a história do mundo foram escritas pela mesma Mão (A, p.115).
O leitor, também, através da peregrinação de Santiago, informa-se de episódios históricos reais. Paulo Coelho, para escrever esse romance, foi até os Pirâmides do Egito, e ao Deserto do Saara, pesquisar a origem e os principais códigos da Grande Obra.
Pedagogismo -
Há também a intenção clara de ensinar alguma coisa, isto é, um explícito pedagogismo. Através daí vislumbra-se a ideologia do autor. O pedagogismo é uma tentativa de respostas a questões reais levantadas pelo romancista (S, p.9).
No decorrer de O alquimista há uma intenção clara por parte do autor em ensinar alguma coisa. Nesse caso, é a ideologia de Paulo Coelho, que é um místico, voltado para o transcendental. Segundo Apoenan Rodrigues:
Paulo Coelho já fez escola. Seguindo a tradição de transmitir os conhecimentos da magia, ele já formou alguns discípulos. No momento tem um em Madri, um em Lisboa, dois em Salvador e um em São Paulo (IE, p. 79).
Cita também que,
A recepcionista carioca Maria Inês Pinto, 29 anos, considerada pelo próprio Paulo Coelho sua leitora padrão, aprendeu todas as lições. “Ele ensina a gente a não deixar morrer nosso ideal, a descobrir o poder que está dentro de nós”, diz. “Basta saber trabalhar suas dicas que podemos ser mais felizes” (IE, p.78).
Descompromisso com a retórica culta -
Ao recalcar industrialmente o cordel no século XIX, a literatura de massa também abriu mão de uma linguagem própria, dando às costas à problemática do estilo. De uma maneira geral, a retórica do folhetim é pobre, esquemática, destinada apenas a armar com eficácia a seqüência dos acontecimentos fictícios. E esta retórica é sempre subsidiária da literatura culta (S, p.9).
O alquimista retoma uma retórica literária fácil, de informações simples, reavivando temas míticos tendo como influência o próprio mercado na organização da narrativa. Com uma linguagem direta esse romance consegue ser acessível a todos.”Seus leitores não se importam se o livro é mal escrito ou narrado como uma fórmula da Maga Patalógica” (IE, p. 78), diz-nos Apoenan Rodrigues.
Como vemos, o fenômeno Paulo Coelho é um fenômeno do best-seller! Que o diga Luiz Suwarez, editor da Companhia das Letras, considerada a editora mais sofisticada, pela qualidade de seus lançamentos. Ao ser entrevistado por Apoenam Rodrigues, em 02/11/94, Suwarez declarou que
acredita que os livros de sucesso estimulam leitores a novas descobertas literárias(...) e que o Brasil não está deixando de ser um país da qualidade porque Paulo Coelho faz sucesso. Ele tem uma proposta clara, que faz com muita competência, e atinge um público que provavelmente não estava aí (IE, p.6).
Podemos concluir que O alquimista é realmente um best-seller, porque conseguiu atingir a um número muito grande de leitores, pela sua alta vendagem, em virtude de falar a linguagem que esses leitores buscavam avidamente para alimentarem seus sonhos e desejos de uma vida melhor.
Na verdade, todos nós buscamos alguma coisa e nos identificamos com aqueles que falam a nossa linguagem. É assim que, no íntimo, são aventureiros os que buscam os livros de aventura nos quais realizam esse anseio.
Os que se sentem frustrados e acovardados diante da vida buscam nos autores místicos os recursos transcendentais para a aquisição de uma força psíquica capaz de reencorporá-los à luta pela sobrevivência.
Na atualidade, estamos vivendo momentos apocalípticos, o número dos que campeiam amargurados e desiludidos cresce dia-a-dia, crescendo concomitantemente o de autores de tempos venturosos, mediante a transmissão de mensagens míticas ou transcendentais, tendo como objetivo ensinar ao homem como resolver os seus problemas de ordem exclusivamente material.
O personagem Santiago é um indivíduo que em busca de seu “tesouro”, de sua “lenda pessoal”, encontra afinal a solução de todos os seus problemas de ordem material.
Cada um de nós, na verdade, é um pouco Santiago. Falamos dos bens do Céu, mas queremos mesmo os da Terra, pois precisamos do transcendental para viver a aventura da vida. Enquanto houver no mundo um descontente que seja, este buscará em alguém ou em alguma fonte informativa o motivo para voltar a acreditar na luta da cotidiano.

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